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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Coração não dorme

Faz tempo que venho ensaiando esse momento, tentando reunir os pensamentos que formam um furacão dentro de mim e organizá-los em forma de palavras e linhas. Palavras que gritam para ser libertadas, pois esse deve ser seu estado natural: livre.
Acontece que não sei como vomitá-las e fico nessa náusea angustiante.
Têm dias que a sensação é de carregar o peso de um mundo dentro dessa vida. E a consequência é sentida no corpo. Primeiro os ombros doem. Depois as olheiras aprofundam.
Bate bate bate coração, dentro do peito. Bate bate bate suas asas querendo abrir e sair.
Bate bate e as palavras travam.

Mas vai continuar.
Nem tudo que não se fala se cala.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

"Colour my life with chaos of trouble"

Já não tento mais entender o que pensam cabeças alheias. A minha própria já é muita confusão para lidar.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Observar, absorver

Te vejo dormir, te vejo respirar ali na minha frente, tão suave, tão você. Enxergo mil formas na sua pele gostosa, te faço carinho com meus olhos, te beijo em mil lugares, te ouço, te absorvo, te eternizo nas minhas retinas. Se eu pudesse dar mil voltas no mundo neste instante, eu escolheria este lugar pra ficar, pra repousar toda minha bagagem de amor. Olho o quadro de céu da janela, sinto o vento, sinto o calor tocar. Nessas horas minhas lágrimas só agradecem em forma de transbordamento. Não poderia querer mais nada da vida.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lobotomia

“She wants to know if I love her, that’s all anyone wants from anyone else, not love itself but the knowledge that love is there, like new batteries in the flashlight in the emergency kit in the hall closet.” - Jonathan Safran Foer, Extremely loud & Incredibly close.

Você olhou pra mim e fez cara de quem já me conhecia. De cima à baixo, como quem faz inspeção num imóvel onde morou quando era criança; móveis diferentes, mas o mesmo cheiro de lugar conhecido. Fazia tantos anos que eu não olhava pra você também, mas a verdade é que eu não senti saudade de você nem por um segundo nos últimos quinhentos anos. Nada.
Saí dali com aquela sensação estranha de ter mergulhado a ponta do dedo num copo de passado e enfiado na boca rápido, descobrindo numa lambida só que algumas coisas quando amargam não voltam a ser doce depois de um período de abstinência. Passei esbarrando por algumas pessoas, fui quase atropelada por alguns carros, as ruas ficaram um pouco tortas de uma hora pra outra e meu equilíbrio que andava tão em dia comigo resolveu falhar.
Esse é o problema de gostar das pessoas. Pessoas fodem sua vida, partem seu coração, comem outras pessoas quando deviam estar só comendo você. Pessoas têm passados de histórias de amor que não foram com você e, no fundo, a gente sempre sabe que a gente também tem o nosso e faz parte do passado comprometedor de alguém. E pior, até onde vale à pena lutar com garras afiadas contra o passado de quem a gente ama, ou esconder com todos os recursos de privacidade o que já aconteceu na nossa própria vida?
O problema do meu ciúme é que ele é tão grande que acaba ficando sem foco. Meu ciúme não tem nome porque eu consigo dar variados nomes à ele todos os dias, em todas as suas ações eu consigo achar alguém que está ali, bem escondidinho no canto do seu cérebro que administra todas as lembranças que foram feitas antes de eu chegar. Meu ciúme é tão imbecil, que eu às vezes penso que se eu abandonar você eu posso finalmente me tornar uma lembrança grossa que também caber (e ainda roubar o lugar de algumas pessoas) nessa parcela de massa incefálica que eu ainda não posso entrar. Se eu fosse passado e não presente, seria eu que ia importunar, não quem estaria sendo importunada.
Daí eu fico inspecionando meu passado de perto todos os dias atrás da moita, que é pra eu me lembrar que eu também tenho um e que, se você resolvesse futucar aqui e ali o tempo todo (como faço eu), você também sentiria ciúme de mim. Mas aí me vem sempre aquela outra pergunta: será que você não sente? Será que enquanto eu durmo você não pega o meu celular e lê todas as minhas mensagens na vontade de achar alguma coisa que explique o porquê eu vigio tão de perto cada um dos seus suspiros mais longos? Ou será que só sou eu mesmo que sou a louca deste relacionamento e não entendo que depois de tanto tempo não resolve mais ter ciúme, ou se acredita no que se tem ou se vai embora e pronto?
Vocês me olharam com caras conhecidas porque, afinal, vocês supunham mesmo me conhecer muito bem. Um beijinho aqui, há anos atrás, algum segredo que naquela época era muito importante, mas que hoje eu nem me lembro mais. Talvez você conheça o nome da minha música preferida e talvez saiba quem é minha melhor amiga e qual é o time do meu pai. Talvez eu tenha um dia dito estar apaixonada por você, talvez eu tenha chorado algumas noites – ou até muitas – porque você me traiu, ou porque me deixou, ou porque não quis me namorar.
E você, amor, você me olha fundo porque conhece o meu bem e o meu mal. Enquanto os outros guardam de mim memórias pequenas, você me reconhece nos meus gestos mais comuns e me enfrenta no meio dos meus devaneios, no meio dos meus ataques de morte, das minhas tentativas de guerra contra todos os demônios que habitam minha cabeça porque ela é sempre cheia de tantas coisas, funcionando muito mais rapido e atribuladamente do que a das pessoas normais. Eu tenho tanto medo de um dia uma mulher normal, com cabelo liso, roupas iguais às de todo mundo e senso de humor medíocre te leve de mim. Porque essas pessoas que são só pessoas – realmente iguais à seus iguais – são normalmente mais fáceis de se conviver. Porque eu sei que você acha a minha loucura bonita e até meio poética, mas eu sei também que você já achou tudo isso muito mais lírico do que acha hoje e que, um dia, pode de verdade cansar de tanto surto.
Eu disse que não senti nada por ele, mas é uma meia verdade, já que não é exatamente uma mentira. Eu senti nada, mas tem dias que eu busco em todos aquilo que você não me dá mais porque já me tem do seu lado há muito tempo. E eles me dão aos montes, mas na hora H eu recuso porque nada do que eles possam me dar vai ser você. E a verdade mais clara de todas as meias que eu tenho dito ao longo desse texto todo é que essas minhas ações repetidas durante tantos anos, nada mais são do que uma bandeira estendida por detrás da trincheira, pedindo trégua e tentando chamar sua atenção.
Na nossa guerra diária de passados, de outros amores, de decisões, de foco, de fica, de fode, de fato, não é a vontade de ganhar de você que me move, mas sim o medo de te perder. A qualquer hora sem aviso, para qualquer uma dessas coisas.
Meu ciúme é tanto que eu acabo olhando muito para o meu passado. E eu sei que sou louca – você me lembra todos os dias e eu também tenho consciência – , mas se eu encontrasse o tão falado gênio da lâmpada hoje, o pedido seria simples e sim, insano: um mundo sem passado, pra mim e pra você.


Rani Ghazzaoui
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Meu comentário:
(Não sou de reproduzir material de outras pessoas aqui. Mas essa autora e esse texto em especial dizem muito sobre mim. Há muitas coisas que eu ainda preciso aprender nessa vida, e uma delas é controlar a minha vontade de ter controle sobre tudo, de investigar coisas que já foram, de chorar as descobertas, de sofrer por coisas que eu simplesmente não posso reverter. Minhas dores sou eu mesma quem causo.)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Transborda

O sentimento tá sempre ali, prestes a transbordar. No abraço que a gente segura e não dá. No beijo que salta até o lábio mas a gente segura e engole de volta. No eu te amo que fica arranhando a garganta mas a gente não grita.
Não é por falta de sentimento. É por excesso. É por não saber lidar, é por medo, é por insegurança. É por bobagem.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

"Já cansei de tentar achar resposta para tudo em mim"

Ninguém nunca te disse que as coisas não são fáceis, sua mãe nunca te ensinou que pra se relacionar com as pessoas você precisa muito mais que sentimento. Que aliás sentimento sozinho não garante muita coisa. Ninguém nunca te disse que pra estar com outro é preciso doses altas de respeito, tolerância e compreensão. Que é preciso abrir mão de alguns mimos pra manter a harmonia. Que é preciso entender que se você optou por estar com alguém você tem que ser companheiro de verdade, até na hora de pisar na merda. Ninguém nunca te disse que paixão é tipo fogo na palha de aço, que queima forte mas rápido, que sobreviver depois desse rápido e intenso incêndio requer flexibilidade e que vai te fazer chorar muitas vezes porque você percebe que tem um monte de carência mal resolvida e que não é justo jogar a responsabilidade da sua felicidade nas costas do outro. Ninguém te fala que o outro é uma pessoa separada de você, que tem suas próprias vontades e gostos, e que sim, vão ter dias que ele não quer te ver, e que não vai existir sexo no mundo que sacie a carência. E que não tem nada a ver o que sua cabeça insiste em te dizer que é porque ele não gosta de você. Ninguém te diz que nesses momentos sua cabeça, consciência, coração ou o diabinho em cima do ombro começam a apontar um monte de defeitos e coisas que você sabe que precisa resolver sozinha, que o outro não é resposta pra nenhum problema interno. Ninguém te fala que quando se escolhe relacionar você precisa sim pensar pelo lado do outro, aliás colocar-se no lugar dele. As pessoas carregam coleções de fardos, sentimentos e decepções que a gente nem faz ideia e que moldam a forma como ela vai encarar qualquer relação pro resto da sua vida. E na hora de se relacionar a última coisa que se deve ser é egoísta. Só te falam de tampa de panela, de metade da laranja, de mimimis, príncipes, flores e bombons e que amor é a base pra qualquer coisa. Amor está na essência sim, mas se não houver pilares de respeito e tolerância nenhuma relação vai longe, não quando se convive todos os dias.  Cair dói, bater o dedinho na parede dói, carregar a obrigação de fazer alguém feliz dói e cansa mais ainda. Porque você vai precisar se reinventar todo dia pra alimentar um monstrinho chamado expectativa. Expectativa só é saudável enquanto dá friozinho na barriga. Quando oprime seu coração e te faz dormir de cabeça cheia ela te mata. Sim, expectativa mata. E a imaginação enlouquece. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

excuse me while I kiss the sky

Tem dias que é como se meu ser partisse em dois, separando corpo e mente, cada um com sua sintonia. Por vezes sinto como se entendesse todos os problemas, todas as inseguranças, receios, medos e o que faz a gente sorrir, o que nos faz bem. É como se com minhas mãos eu conseguisse desvendar todos os segredos, descobrir todas as respostas e então fecho os olhos e sinto o cheiro do momento, mas esse momento é efêmero, ele me escapa das mãos e segundos depois eu não consigo me recordar o que estava tão claro antes. É como se eu tivesse descoberto o sentido da vida, das relações, do indivíduo, mas precisasse esquecer para poder viver tudo aquilo na realidade. É como se eu soubesse o segredo para a felicidade plena e precisasse esquecer pra poder continuar. É muito estranho, meus olhos vermelhos enxergam coisas que os outros não vêem. Daí fico assim dividida. meio desligada e meio elétrica, meio aqui meio em outro mundo. E eu juro que nesses momentos é como se eu pudesse tocar o céu com a ponta do nariz.

terça-feira, 11 de junho de 2013

eu faço samba e amor até mais tarde

Era 6h23 da quinta-feira mais bonita do ano. Enquanto eu saia da sua casa pra trabalhar via o céu sorrindo pra mim enquanto se formava mais um dia. 

(Só pra deixar registrado, 06.06.13)

terça-feira, 28 de maio de 2013

sobre tudo o que falei enquanto você dormia.

“Tinha um jeito singular de fechar os olhos quando experimentava emoção bonita, coisa de segundos e coisa imensa. Era como se os olhos quisessem segurar a lindeza do instante um bocadinho, o suficiente para levá-lo até o lugar onde o seu sabor nunca mais poderia ser perdido. Eu via, olhos do coração abertos, e nunca mais perdi de vista o sabor desse detalhe. Porque quem ama vê miudezas com olhar suficiente pra nunca mais se perderem.”

Quem vê assim de fora nem imagina o quanto minha mente tece histórias e palavras pra te traduzir o momento. Você ali dividindo a cama, dividindo a intimidade, me transmitindo seu calor, me protegendo do frio e das minhas incertezas, afastando inseguranças com sua respiração no meu pescoço. É como se eu quisesse agarrar esses momentos, como se fosse pérolas únicas e raras. é quente, é reconfortante, ali duas pessoas livres e desarmadas, respirando o ar do outro, Se eu soubesse como te amarraria nos meus braços, pra poder manter esse momento seguro. Mas tudo bem, como diz na canção, eu gravei seu rosto atrás dos meus olhos. Você me arrepia.



(começo)