Não fala assim, pára, não fala que me ama. Shhh não aguento ouvir nem ler essas palavras.
Você mexeu no meu ponto fraco, tocou na ferida sem cuidado nenhum e eu me retrai mesmo, não porque doeu de fato mas porque qualquer caminho que leve a esse direção já me faz agir assim por reflexo. Eu aprendo com as dores. E eu prometi, nenhuma palavra sobre isso. Esperei, e por despeito seu, continuo esperando.
Faltavam 45 e eu pensava que eram muitos ainda. Mantive o pensamento aos 40, 35, 27, 15, 10, 1. Estendi até mais 5. Mas quando os números estavam iguais algo em mim sabia que minha pior suspeita seria na verdade a mais triste certeza. E eu subi as escadas sem olhar para trás, e o vento gelado cortava minha garganta e eu sentia a pulsação na minha mão pedindo por um pouco de nicotina pra acompanhar o gosto da lágrima salgada que chegava na boca. Eu sentia o peso do chumbo frio em cada articulação, e quase arfava pra conseguir um pouco de ar. Entrei naquele trem só pela força do hábito mesmo porque eu nem sabia onde estava pra ir, nem sabia se queria saber.
Janela gelada, só borrões da noite e eu disse que para o bem ou para o mal seria definitivo mas não conseguia parar de repassar mentalmente aquelas palavras "temos todo o tempo do mundo". Engraçado como usar a primeira pessoa do plural com você sempre foi natural, até instintivo.
Então eu prometo e faço coisas humanas e sem sentido e paro de ler e de pensar e só deixo entrar todas aquelas substâncias, então me vens e quer me surpreender e confessa o inconfessável da sua parte. Mas eu tenho medo, e paraliso e me obrigo a pensar mas meu cérebro é um membro burro quando quer e eu só consigo mesmo é sentir. Então travo uma luta interna e tento ceder ao instinto de ligar e chorar e dizer que estou indo pra'í pra gente viver toda a nossa espécie de amor (porque a gente tem um amor diferente de todos os outros que existem) na plenitude e que eu espero e esperaria mais mil anos se eu tivesse vida porque algo dentro de mim sempre gritou que aqui dentro tem um nome tatuado.