Tentei em vão me deitar mais cedo, depois de muitas reclamações de que o modo como vivo não é vida que se leve a sério. Mas a crise de ansiedade voltou e eu não consigo pregar o olho. Eu fico cantando refrões vencidos, repetindo clichês, banhando-me de uma lertargica nostalgia. Daí eu lembro de 365 dias antes, me bate fundo no coração, sinto um solavanco na boca do estômago, uma sensação de choro preso pronto a sair no próximo verso.
Eu poderia escrever trezentas e quarenta e duas linhas sobre a saudade e suas ramificações e consequências que mesmo assim eu buscaria um atalho nas idéias pra inventar mais uma forma de senti-la. A verdade é que eu penso em me trair todo dia, pegar o telefone pra avisar que estou chegando na sua casa, esbarrando na sua vida de novo, pra reforçar nossa cola que ultimamente está um tanto quanto capenga.
Mas essa promessa velada, esse pacto silencioso só me deixam com a estranha e irritante sensação de que não devo abandonar a espera, que devo esperar, por mais que minha razão fale para eu soltar esse retalho de lembrança que me prendo.
É como se eu, todo dia, tivesse segurando sua mão naqueles brinquedos que giram e giram sabe. Enquanto roda dezenas de vezes a mão vai escorregando, às vezes chegando a ficarem presas apenas por um dedo. Fazendo a alusão, creio que esses são os dias que me distraio da sua lembrança e vivo o mundo; mas daí criamos força suficiente para agarrar novamente as mãos e assim permanecer por mais um bocado de giros. E é aí que eu afundo na memória e nos sentidos e me afogo nos olhos...
Mas um dia a roda pára de girar, não pára? Por mais que eu esteja meio tonta, não tenho certeza se quero parar. É como se você tivesse mágica nos seus dedos e faz com que escorra pela minha pele. É tão bom. Estou me afogando de novo. E girando girando...
(E o hoje é o inverso de ontem)
(E o hoje é o inverso de ontem)
"E confesso que agora, neste instante, no dia treze de março de dois mil e dez, às seis horas e vinte e um minutos da manhã, enquanto vejo o dia clarear no chão do meu quarto e uma lágrima percorre o caminho entre olhos, boca e coração, e ouço a música Espero, me deu muita vontade de me teletransportar pro seu lado, enquanto você dorme mesmo, te dar um beijo de leve, como uma brisa enquanto seu cheiro me abraça e fechar os olhos e mesmo assim saber que você está pertinho."
ResponderExcluirquanta pureza!