Quando as circunstâncias te forçam a se afastar da pessoa que você gosta, depois que passa a dor, a gente passa a enxergar com o dobro da lucidez de antes.
Eu, por todos esses dias de silêncio gritado, te amei devotadamente, hoje eu entendo os sentimentos. Meu silêncio velado levava meus pensamentos a te visitar, a cada dia que eu acordei respirando e não foi hoje que isso deixou de acontecer, por isso escrevo.
Recordando as conversas passadas, formo um filme na minha cabeça. E não sei como pude ser tão cega para não enxergar os sinais que você me dava. Falava sobre esperar, eu sempre odiei esse papo. E como que por ironia, ele tem sido meu companheiro, enquanto eu espero o dia do nosso reencontro. Porque esse dia vai chegar. Eu preciso dizer que senti sua falta com força todos os dias, como eu te vejo quando fecho os olhos, como sinto seu cheiro e como te amei, mesmo quando te detestei.
A verdade é que me envolvi com tantos outros achando que finalmente me libertaria desse sentimento, mas depois que me frustrei com eles - estranhamente nenhum tinha graça ou eu enjoava - eu só constatava o mais óbvio: que eu te amava mais, e claro que eu me detestava por isso. Admitir isso agora é mais fácil.
Todas as minhas rotas de fuga, todos os meus planos para escapar de você, só me jogavam mais fundo no abismo da sua lembrança, do seu tom, do seu compasso e melodia. E às vezes tarde da noite me encontrava naquele estado entre a dormência e o sono e desejava com tamanha força que de manhã eu despertasse pra ver seus olhos me encarando.
Todas as minhas saídas, todos os meus envolvimentos, todos os olhares para outra direção que não fosse a sua, tudo isso foram apenas tentativas de te esquecer, ou melhor, te apagar da minha vida, apagar tudo o que aconteceu, apagar o sentimento que vivia e ainda está vivo. As pequenas coisas, desde o início estavam aqui, e todos me apontavam, mas eu não queria ver.
Hoje eu quero te reencontrar pra mostrá-las todas a você. Te empresto meus olhos pra você enxergar com essa lucidez que os clareia. Somos aquelas paralelas que se encontram no infinito. No nosso infinito.